Eu escolho lembrar

"Você pode destruir as evidências, mas você não pode destruir as memórias."
 
     As pessoas esquecem. Esquecem objetos, esquecem lugares, esquecem sentimentos, esquecem compromissos, esquecem recados, esquecem umas das outras. Talvez pela correria dos dias ou mesmo pela pouca importância que se dá ao que é esquecido. Pode ser também por estarem acostumadas ao esquecimento. Condicionadas a "saber" o que esquecer ou não. São muitas as explicações para que esse "lapso" aconteça, bem como são muitas as promessas afirmando que o mesmo não se repetirá.
     Eu escolho lembrar. Sempre fiz isso. Não seria uma lembrança rancorosa (nem sempre), mas uma lembrança como um álbum de fotografias que não se quer jogar fora. Não gosto de esquecer. Não trato isso como opção. Esquecer, para mim, não é algo cogitável. Quando, e se, acontece, não me perdoo. Não me sinto bem quando esqueço de algo ou alguém. Tudo e todos que passaram pela minha vida, merecem uma página do meu álbum de lembranças.
     Eu gosto de lembrar. Nostálgico? Sim, muito. Mas, neste caso, as lembranças de que falo não são nostálgicas. São lembranças como uma espécie de amuleto. Algo de grande valor que não deve ser jogado fora nem muito menos deixado de lado. Até as ínfimas lembranças são valiosas. Contribuíram para que eu seja como sou agora. Foram e são importantes. Por mais que, em determinado momento, eu não veja nelas valor algum e cogite dispensá-las, desisto praticamente no mesmo instante.
     Eu prefiro lembrar. Opto por sorrir, chorar, envergonhar-me, sentir novamente aquele "que merda!", experimentar, sempre que quiser, todos os sentimentos que essas memórias trazem à tona. Por mais que algumas cartas, presentes, roupas, animais ou pessoas façam parte do passado, escolho lembrar e relembrar cada um deles, sempre que achar por bem. Podem me fazer bem, podem me fazer mal, mas fizeram parte da minha história. São recordações que me advertem para os passos que eu darei em determinado momento. Alertas, sinais, avisos. São como conselhos que a vida foi me dando e que eu vou seguindo devido às experiências de outrora.
     Talvez se todos lembrássemos, o mundo poderia ser melhor. Se todos lembrássemos de quem somos, do que somos e quem o outro é para nós, o respeito poderia voltar a conviver entre os seres humanos. Quem sabe se todos nós recordássemos dos momentos bons vividos com alguém, das experiências frustradas que já tivemos, dos maus exemplos que já percebemos, de como somos frágeis e fortes ao mesmo tempo, quem sabe... É possível que as memórias possam ser a chave para aprendermos a conviver, a sermos pessoas melhores. Comigo funciona.

"As memórias não são apenas sobre o passado, elas determinam o nosso futuro."
Lois Lowry em "The Giver" (O Doador de Memórias)

"Creiam-me, o menos mal é recordar;
ninguém se fie da felicidade presente; há nela uma gota da baba de Caim."
Machado de Assis em "Memórias Póstumas de Brás Cubas"

"O tempo não comprou passagem de volta. Tenho lembranças e não saudades..."
Mário Lago

Tem Mais?
Tem. Mas só quando eu lembrar do blog novamente.

Ton

Espero que você tenha se conectado comigo após a leitura deste texto.

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